O que é viver melhor? Para a psicóloga e psicanalista Viviane Mosé, viver melhor é viver com consciência. “Consciência de que precisamos aprender com as desigualdades, o sofrimento e a instabilidade; e de que podemos tirar alegria das pequenas coisas do cotidiano”, explicou, na noite de quarta-feira (18), no auditório do Edifício-Sede do MPDFT.

A palestra, que Viviane preferiu chamar de bate-papo, foi parte do ciclo de ambientação Conhecendo o MPDFT. Mestra e doutora em filosofia, Viviane deu início à conversa chamando a atenção para a necessidade de refletirmos sobre a natureza múltipla e contraditória do ser humano: “Se, por um lado, a inteligência é nossa característica mais marcante; por outro, não perdemos a nossa animalidade, que nos torna capazes de destruir não só a natureza como nosso semelhante”.

“Estamos vivendo um confronto com a expectativa da modernidade, que descobrimos ser uma ilusão”, afirmou. Segundo Viviane, ao longo do século XIX existia a crença de que, no futuro, a ciência resolveria todos os problemas da humanidade, e viver bem seria possível para todos. A tentativa de transformar o mundo em um lugar perfeito, no entanto, provou-se inviável. “O futuro se tornou motivo de angústia, e não de alegria. Temos medo dos conflitos entre ética e ciência, temos medo de um grande desastre ambiental”, enumerou.

Outra fonte de contradições é o fato de nossa civilização não valorizar o trabalho como fonte de dignidade e auto-realização. “Tradicionalmente, o trabalho é visto como fonte de sofrimento, angústia, e exploração, e também como coisa dos menos favorecidos: os nobres não trabalham.” Na realidade, porém, a alegria duradoura não vem do ócio e nem das conquistas materiais. “Nós nos alegramos quando conseguimos ir além de nós mesmos, expandir nossas possibilidades, ser o melhor que conseguimos”, afirmou.

Viviane, que já prestou consultoria a várias empresas e organizações sobre temas como qualidade de vida, mudança de atitude e melhoria do ambiente de trabalho, tem uma visão positiva sobre o futuro. “Mudar o mundo é uma necessidade urgente, mas estamos vivendo uma época transformadora, em que ética é uma palavra onipresente”, disse. “As dificuldades nos aproximam. Precisamos construir novos jogos de relacionamento, novos modos de convivência, e compreender que respeitar o outro não é uma questão de bondade. Dependemos uns dos outros”.

Para ela, nossa relação com a vida é adolescente. “Queremos apenas o que é bom, e vemos todos os obstáculos como castigos injustos”, disse. No entanto, ou incorporamos aquilo de que não gostamos à nossa vida, e aprendemos a lidar com as frustrações, ou continuaremos nos iludindo. “O ser humano se ilude a respeito da vida, dos outros e de si mesmo. O que vai nos fazer viver melhor é perder a ilusão a respeito da perfeição inatingível, a respeito de uma felicidade que nunca chega, a respeito da nossa genialidade escondida.”