Foi constatada superlotação na UPA do Recanto das Emas. Nas duas unidades, indisponibilidade de hemodiálise, falta de centros cirúrgicos e ausência de aparelhos de tomografia dificultam o atendimento aos pacientes graves
A força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que acompanha as medidas de combate à pandemia de Covid-19 encaminhou ofícios ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) com questionamentos sobre a estrutura e os equipamentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante e do Recanto das Emas. A medida é resultado de vistorias realizadas no final do mês de julho.
A unidade do Recanto das Emas está visivelmente sobrecarregada. Nos dois locais foram observadas limitações para os doentes em estado crítico permanecerem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da UPA. Quando necessário, os pacientes precisam ser removidos para os hospitais de referência, na Asa Norte e em Taguatinga. A unidade do Núcleo Bandeirante foi melhor avaliada e apresentou bom número de profissionais de saúde e de equipamentos para atendimento aos casos menos graves de Covid-19.
Para os representantes do MPDFT, a indisponibilidade de hemodiálise, a falta de centros cirúrgicos e a ausência de aparelhos de tomografia computadorizada nas duas UPAs visitadas dificultam e até impossibilitam, em alguns casos, o atendimento aos pacientes em estado mais grave e instável, o que pode explicar, por exemplo, porque a UPA do Núcleo Bandeirante frequentemente possui leitos vagos, de acordo com o site da InfoSaúde-DF (antiga Sala de Situação).
Na UPA do Recanto das Emas, também foi registrada a demora, de 10 a 14 dias, para a liberação dos resultados dos testes RT-PCR realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). Segundo os promotores de Justiça, a lentidão desses resultados, aliada à dificuldade para a realização de tomografias, têm dificultado a efetivação do diagnóstico de pacientes infectados pela Covid-19 e, consequentemente, o encaminhamento para unidades de referência.
Também foi relatada aos representantes do MPDFT a dificuldade para a obtenção de medicamentos, principalmente alguns tipos específicos de sedativos, mas que têm sido substituídos por outros fármacos com a mesma finalidade no caso da UPA do Núcleo Bandeirante. No Recanto das Emas, foi verificada a necessidade de empréstimos de medicamentos da empresa que gerencia a UPA para a empresa que gerencia a Unidade de Tratamento Intensivo.
Atendimento
As pessoas que buscam atendimento nas duas UPAs passam por triagem inicial. Na do Núcleo Bandeirante, quando não há suspeita de infecção pela Covid-19, elas são orientadas a procurar outras unidades de atendimento, ou, em casos graves, removidas por serviço de ambulância. No local, para reforçar o atendimento para pacientes com suspeita de contágio pelo novo coronavírus, foi instalada na área externa uma tenda para avaliação e acompanhamento médico. Quando indicada, a internação segue orientações do sistema gestor, Sisleito. O tempo de permanência na tenda é variável, dependendo da disponibilidade de leitos no sistema e da capacidade de remoção.
No Recanto das Emas, a triagem é feita em duas salas. Os profissionais do local explicaram que não estão conseguindo fazer a separação dos pacientes que apresentam sintomas respiratórios dos que chegam com outros sintomas. A justificativa é a desigualdade entre as duas demandas e a superlotação da unidade. Atualmente, cerca de 70% dos pacientes têm suspeita de Covid, e muitos dos infectados com o novo coronavírus não possuem sintomas respiratórios.
No local, foi informado que os pacientes com e sem suspeita da Covid-19 são mantidos em setores separados enquanto aguardam encaminhamento para outras unidades. Porém, nas salas de observação, onde permanecem aqueles que aguardam remoção, a ocupação está acima da capacidade pela demora no processo de transporte. A maior dificuldade de remoção é em relação aos pacientes não portadores de Covid-19, pois a unidade de referência, o Hospital Regional de Taguatinga, também está sobrecarregado. A permanência por longo período aguardando transferência na UPA aumenta risco de infecção pela doença, agravando o problema inicial, mesmo com os cuidados que têm sido tomados para evitar a contaminação.
Para os procuradores e promotores da força-tarefa, a partir das vistorias realizadas nas unidades de saúde, já é possível identificar um padrão repetitivo de desvio do atendimento de algumas unidades hospitalares e UPAs que apresentam excesso de demanda para outras unidades que também já operam acima da capacidade, gerando maior comprometimento da qualidade do atendimento nas unidades receptoras.
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