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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

A história está sendo constantemente reescrita. Livros publicados não têm como sofrer emendas se seus autores já tiverem morrido e, assim, a chance de serem corrigidos ou renegados. Mas, com o passar do tempo, novos valores vão sendo espontaneamente (ou não tanto assim) engendrados, de modo a modular a compreensão da atualidade e também a do passado, em um ajuste de contas retrospectivo. Obras importantes acabam perdendo vigor e surgem fissuras no panorama que Kuhn chamava de “paradigma”, repristi-nando trabalhos ignorados, esquecidos ou estigmatizados como marginais. Algo mudou: os fatos, as versões ou a tensão entre ambos.

Existe uma dificuldade crucial para o estudioso da história, que é a questão epistemológica. Quem quiser dominar algum assunto, como a Revolução Francesa ou a Segunda Guerra Mundial, precisará se valer da bibliografia sobre o assunto que, malgrado extensa, permite acesso à realidade de modo indireto e até remoto ou remotíssimo. Ninguém, nos dias de hoje, conheceu Hiúer e muito menos Ro-bespierre. E mesmo que tivesse conhecido, isso poderia ser de nenhuma relevância. Um contemporâneo seria capaz de dar um bom depoimento sobre a sua experiência, que não passaria de um elemento dentro do contexto geral; seria rico em credibilidade, mas seu conteúdo carecería do complemento de muitos outros fatores.

Além do problema da fonte, existe o ingrediente moral. Admiradores de Thomas Jefferson e Churchill tendem a realçar os grandes estadistas que foram (ou como passaram a ser vistos), e colocarão entre parêntesis seus pontos fracos. Até segunda ordem, o temperamento pró-guer-ra de Sir Winston, bem mais apropriado do que os esforços diplomáticos vãos de Chamberlain, falam mais alto que seus defeitos óbvios e o fato de ter sido sortudo em um nível superlativo.

Jornal de Brasília - 5/12/2018

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