Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Será mesmo verdade que juízes são pedantes e inacessíveis? Essa imagem costuma ser associada aos membros do Judiciário, tanto quanto o gosto por mordomias, belos palácios, carros oficiais com motoristas e altos salários. Esses aspectos falam mais alto do que o fato de que conseguiram seus empregos após estudarem muito e continuarem tendo que se atualizar continuamente, terem uma carga horária por vezes esmagadora, responsabilidade aguda, impossível de agradar a todos, e vida funcional e até pessoal controlada interna e externamente.
Quando alguém pertence a uma instituição ou a uma linha profissional, inevitavelmente passa a se comportar de determinada maneira. Operários da construção civil, jogadores de futebol, garçons, atores etc, cada qual tem seu jeitão próprio, seu linguajar, sua maneira de se vestir e até de andar. Há um certo padrão consolidado quando a pessoa abraça tais ocupações, e ela, via de regra, nada mais faz do que se adaptar.
Com os juízes não é diferente. Eles não formam uma categoria diferenciada nem isolada do restante da sociedade, e sim compartilham os mesmíssimos defeitos e as mesmíssimas qualidades de todos os demais indivíduos. Uns são mais educados que outros; uns são mais preguiçosos; uns são mais zelosos, e assim por diante. Prepotência não é um predicado natural da magistratura e nem mesmo uma tendência. Ao contrário. Os magistrados costumam aprimorar o dom de usar da autoridade de que estão investidos sem degradá-la em arbitrariedade. Com 25 anos de Ministério Público, dou testemunho disso com o máximo de sinceridade.
O que acontece é que a arrogância se sobressai mais quando um juiz sofre desse defeito. Mas o defeito em si é apanágio que se vê com absoluta clareza em guardas de trânsito, porteiros e funcionários de companhias aéreas.
Jornal de Brasília - 13/2/2019
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