Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

A todo o momento nos deparamos com a necessidade de fazer uma conceituação, a fim de melhor nos situarmos no mundo ou por simples curiosidade intelectual. Por exemplo, a fachada de um prédio não é apenas um tema arquitetônico, mas, antes de mais nada, filosófico. Para saber se o condômino alterou sua unidade a ponto de modificar a fachada do edifício – com todas as consequências jurídicas, multas, reuniões, processos, essas chatices – é preciso saber com alguma exatidão do que se está falando.Depois é questão de definir se se pode trocar a esquadria ou colocar ganchos de rede nas paredes da varanda.

Desde Aristóteles são conhecidas como “categorias de entendimento” certas noções como tempo, espaço, substância, número, causa, dentre outras, sem as quais não conseguimos conceber as coisas.

Não apenas as mais difíceis perguntas se colocam metafisicamente: o que é Deus? O que é o homem? O que é vida? O que é felicidade? No cotidiano, precisamos saber o que é fachada, o que é geladeira, o que é mitocôndria. Pois o primeiro passo é precisar a palavra-chave semântica. Uma mitocôndria é uma “organela”. Se você começar assim, terá começado com o pé direito. Uma geladeira é “eletrodoméstico ” ou uma “máquina”.

Vocábulos demasiado vagos, como “trem”, “troço” e “negócio”, são pobres porque aplicam-se a quaisquer outras coisas e, assim, somente devem ser utilizadas em situações de desespero. Uma geladeira é tão um “negócio” quanto uma mitocôndria e ambas estão muito longe de serem sinônimas entre si.

Quando um estudante começa a fazer estágio comigo, eu pergunto para ele se ele sabe o que é “fiança”. Ele sempre cai na armadilha, dizendo que é um dinheiro que se paga para sair da cadeia.O estágio é bem-sucedido quando ele termina dando uma resposta muito mais elaborada do que essa.

Jornal de Brasília - 27/3/2019

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