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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Vinte e tantos anos atrás, em uma viagem aérea, entabulei agradável conversa com um senhor mais velho, sentado a meu lado. Papo vai, papo vem, fomos percebendo que ambos éramos da área jurídica e, num momento de indiscrição, perguntei o que ele fazia. O senhor respondeu que era 'magistrado'. Eu era um reles promotor público e esse senhor, como acabou por se apresentar plenamente, era o ministro do STJ Américo Luz. Eu o conhecia de nome mas não pessoalmente nem de vista. Repito: apesar de sermos da mesma linha profissional, eu não o conhecia e muito menos ele a mim.

O grande público, então, nem se fala. Um sujeito como ele e outro como eu podem andar tranquilamente por aeroportos, restaurantes, shoppings, e não serão incomodados por ninguém. Serão cumprimentados ou ignorados, nada mais. É recente o fenômeno de magistrados serem identificados em ambientes abertos e hostilizados com insultos e provocações, inclusive com filmagens de celular que de imediato circulam nas redes sociais. Na verdade, somente alguns pouquíssimos passam por esse desconforto, uns dois ou três, talvez quatro, do STF. 

O Supremo assumiu o protagonismo do cenário público brasileiro e notoriamente saiu-se muito mal. Longe de mim querer defendê-los, mas o juiz não pode se preocupar em agradar. Ele está acostumado com isso porque suas decisões muitas vezes são objeto de recurso dos dois lados, o que significa que ninguém gostou do seu trabalho. Se a opinião pública quiser que um 'bandido' seja condenado mas o juiz achar que a prova não é suficiente, ele deve absolver. Ele precisa absolver. É melhor ser achincalhado pelo vulgo na rua do que ficar de mal com a própria consciência. P.S. Precisei pesquisar na internet para descobrir que Américo Luz faleceu em 2004. A ele, minhas homenagens póstumas.

Jornal de Brasília - 2/4/2019

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