Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

1 - Não existe possibilidade de conhecimento verdadeiro sem a imersão na realidade da vida, de suas situações concretas, seus problemas, suas possíveis soluções. O acadêmico de direito (para ficar na minha linha de atuação profissional, mas isso serve para qualquer outra) que estudar umas dez horas por dia durante cinco anos vai colar grau com considerável bagagem abstrata. Mas não saberá fazer uma audiência ou um júri, não terá desenvoltura para despachar com um juiz ou com um delegado, porque esse tipo de coisa não se aprende em biblioteca, e sim observando pessoas experientes, ainda que elas tenham menos conteúdo que o próprio estagiário.

Perdoem-me a sinceridade, mas obras de direito administrativo ou processo penal escritas por autores sem atuação na Administração Pública e na área criminal não passam de colchas de retalho bonitinhas mas que não aquecem direito.

2 - Mudando de assunto. Há algo difícil de se compreender aqui: a garota se veste e se comporta para ser percebida como objeto de desejo masculino. Roupas, maquiagem, gargalhadas, jeito de dançar, tudo é calculado para chamar a atenção e atiçar os instintos alheios mais básicos. Quando ela passa a ser tratada como um pedaço descartável de carne, o que faz? Não gosta. Reage. Diz-se ultrajada. Fica revoltada exatamente quando e porque seu objetivo foi alcançado.

Antes que alguma pateta me acuse de machista, eu aperto o passo para dizer que mesmo em tal situação, em que a garota se colocou como a vulgaridade em pessoa, ainda assim ela pode recusar qualquer investida, especialmente a agressiva, com contato físico ou palavras mais fortes. Pelo que entendi da vida até agora, até a esposa pode apelar para a famosa dor de cabeça ou qualquer outra desculpa esfarrapada para afastar iniciativas do marido. Este pode fazer beicinho, mas não tem opção a não ser aceitar.

Jornal de Brasília - 5/6/2019

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