Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
O estádio de futebol em peso insulta um jogador adversário ou o árbitro da partida aos gritos de “bicha” ou “veado”. Tais adjetivos claramente menosprezam aspectos das pessoas a quem se referem e têm por objetivo diminuir o sujeito a quem a manifestação é dirigida.
Convenhamos, isso precisa acabar. Homossexuais não podem ser objeto de escárnio público, de zombaria gratuita. Ninguém merece sê-lo, não há ganho aqui. Talvez um dia as pessoas se envergonhem disso, a exemplo do declínio das piadas com negros, deficientes físicos, ébrios e drogados, os dois últimos hoje percebidos como doentes e não como malandros a serem apontados na rua e ridicularizados. As piadas que envolvem judeus tocam em pontos que não doem, como o argentarismo ou a famosa mãe judia. Mas debochar dos fornos crematórios é de um mau gosto inaceitável.
É improvável que paradas gays consigam modificar esse quadro. Elas dificilmente consolidarão o respeito de quem não sente repugnância pela conduta homossexual, dadas algumas das qualidades mais exemplares do ser humano como um todo, como a sobriedade, a disciplina, o respeito por símbolos religiosos alheios, a discrição. Muitos homossexuais são reservados e não querem falar sobre o assunto abertamente e não podem ser constrangidos a transformar suas intimidades em matéria de debate, em bandeira política. Aliás, a conduta homossexual, em si, nada tem meritória. Ela pode ser expressão de um prazer, uma delícia que diz respeito estritamente a seu titular.
A substância heterossexual tampouco é meritória em si. Nem toda relação entre homem e mulher é acolhida com simpatia. Poucas pessoas se relacionariam socialmente com um casal formado por um avô de 71 anos e sua neta de 19. Não acreditem quando dizem que desejos são fontes de direitos, pela simples razão de que estes são limitados e aqueles são infinitos.
Jornal de Brasília - 3/7/2019
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