Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Juízes, promotores, advogados e os demais componentes das carreiras jurídicas são todos oriundos do mesmo lugar, as faculdades de direito. Se retrocedermos a essa fase, encontraremos uma óbvia relação de afinidade, de coleguismo, de histórias de vida que se desenvolveram de maneira mais ou menos paralela, de um ambiente que inspira ou tende a inspirar as relações sociais. Em sua festa de aniversário, é previsível que a maioria dos convidados do promotor seja composta por integrantes da área legal, em especial, do Ministério Público.

No dia a dia, você encontra antigos colegas de universidade. Com alguns você tem mais contato, com outros você conhece apenas de vista, com outros você sabe o nome e alguma coisa da vida pessoal (ele se casou com a prima de uma antiga namorada, talvez tenham se separado, sabe-se lá), de outros vocês escuta falar (bem ou mal), outros você acha uma simpatia e bate um papinho (mas acha um tremendo picareta) e por aí vai.

Nada disso significa nada. As pessoas não precisam fingir que não se conhecem. Se eu vier a fazer audiência com um advogado com quem tenho alguma amizade, isso não quer dizer que darei a ele colher de chá, que permitirei qualquer tipo de tratamento privilegiado. Podemos conversar com intimidade antes ou depois mas, durante o ato processual, o que existem são dois profissionais, cada um pago por suas fontes, defendendo interesses diversos e tentando atuar da melhor maneira possível. Digo mais: é facílimo separar as coisas, é como mudar o canal da televisão.

Há uma proximidade especial entre juízes e promotores porque ambos fazem parte do sistema judicial, são funcionários de carreira, passaram em concursos com idênticos grau de dificuldade e salário e, em alguns casos, veem-se quase todos os dias. Mas daí para dizer que ficam de combinação nos processos vai uma imensa distância.

Jornal de Brasília - 10/7/2019

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