Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Audiência judicial é um ato processual com uma característica peculiar: a presença, em carne em osso, do profissional forense. Ali ele se expõe por inteiro, mostra sua postura corporal, seu olhar, seu tom de voz, seu sotaque, sua gesticulação. Revela se é pontual, se é cordato, se é grosseiro, se é bem-humorado, se tem bom gosto para roupas. Se é caprichoso, objetivo, econômico, preguiçoso, irônico ou mentiroso. Se tem estofo cultural e se se preparou para as inquirições ou se fica falando besteira, resmungando e achando que está fazendo um favor para a humanidade (da minha parte, gosto de pensar nas pessoas que gostariam de estar no meu lugar, imagino que sejam muitas, quem sabe milhares, e aí qualquer vontade de murmurar desaparece).

Naquele momento, não há papéis nem carimbos onde se esconder. O profissional não é apenas um nome, uma abstração, mas um ser um humano completo. Sua presença transmitirá credibilidade, transparência, precisão, técnica, harmonia ou, por outro lado, prepotência, desequilíbrio, desconhecimento, desinteresse, que tudo não passa de um grande tanto-faz. Uma audiência que trate de um assunto delicado poderá transcorrer de maneira serena e até agradável. Uma audiência singela poderá se tornar um evento desconfortável e desconfortante.

Algumas audiências pedem doses extras de paciência. Se o réu for destacado e o advogado for agressivo, é possível que haja uma desestabilização emocional. Um promotor de estopim mais curto talvez entre em rota de colisão com a defesa. Bem. Os juízes não podem escolher os promotores. Mas, se houver uma mínima chance de pedir para que um promotor mais pacífico participe do ato, em vez de outro mais pressuroso, isso pode ser feito com delicadeza e sem problema. Trata-se de um esforço de administração da justiça que melhor atende ao interesse público, nada mais.

Jornal de Brasília - 20/8/2019

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