Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Por mais complexas que sejam, as relações de poder político podem ser reduzidas até se chegar a um formato triangular, como se depreende de Chimpanzee Politics, de Frans de Waal. Exame laboratoriais mentais quase sempre revelam estrutura composta por alfa (chefe), beta (auxiliar do chefe) e gama (quer tomar o lugar o chefe). Os demais integrantes do grupo compõem a massa, sem destaque ou com algum destaque que aparece de repente, talvez de maneira fulminante.
O que se precisa atentar é para os detalhes de cada realidade. Pode ser que o alfa tenha mais de um beta (no nazismo, Sir Ian Kershaw chama isso de working towards the Führer, “trabalhar para Hitler”), ou que o beta seja um falso beta, na verdade um gama, ou que está se articulando para ser o beta do gama. Ou é um beta com jeito de alfa, pois funciona como eminência parda que dá as cartas nos bastidores, como no filme O grande ditador, de Charles Chaplin.
Ou então o alfa é um mau alfa, que não traz benefícios gerais para o grupo, especialmente os segmentos mais frágeis, mas apenas para si e seus betas, como o Coronel Ramiro de Gabriela, Cravo e Canela, que governava na base da força bruta. Ou então as relações de grooming (consolo) são interesseiras demais e o movimento do bobbing (o reconhecimento do alfa de que foi destronado por um novo alfa) é de araque, trazendo pacificação ilusória.
É importante saber se o grupo é patrifocal ou matrifocal, como os chimpanzés e os bonobos, respectivamente. O resultado é que estes são muito mais tranquilos (em cativeiro, copulam a cada hora e meia) e aqueles vivem em pé de guerra (apenas a cada sete horas, em média). Na série “Casa de Papel”, a Nairobi dá um golpe em Berlim, que retoma o poder sem precisar dar um peteleco nela. Berlim era um bom bandido. E os betas dela, Denver e Rio, eram dois rapazes apaixonados, dois bobões.
Jornal de Brasília - 4/9/2019
Todos os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição.