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Davi Mendonça Normandes
Servidor do MPDFT

A manifestação concreta dos três poderes da República Federativa do Brasil dá-se por intermédio de seus agentes políticos, as autoridades públicas. Os chamados e alardeados privilégios, pactuados constitucionalmente, são correspondentes ao elevadíssimo grau de responsabilidades inerente às funções desses cargos públicos. Auxilia a compreender a peculiar figura da autoridade moderna o contexto histórico da gestão pública brasileira.

Com os devidos méritos pessoais, cidadãos ocupam variados postos de relevância na democracia nacional. Entretanto, mesmo em tempos de federalismo cooperativo, o cargo público de autoridade ainda estabelece correlação com o passado imperial. O isolamento em sala particular, o séquito de auxiliares, o vestuário, as cerimônias, os convites privativos, a obrigatoriedade dos vocativos reais, a manutenção vocabular de distinção dos bens públicos (Palácio da Justiça, do Planalto, da Alvorada etc.).

Esses e muitos outros fatores contribuem para o ostracismo da autoridade pública que, embevecida nessa atmosfera incomum, com o passar dos anos, fica míope e antipática à compreensão da realidade. Nesse cenário, vivendo em ambiente paralelo, numa leitura teórica e estatística do mundo real, nas alturas do gabinete oficial, muitas Excelências cultivam engenhosas ideias que, impulsionadas pelo seu poder de articulação proveniente de legítima autoridade, transformam idílicas abstrações em projetos e programas.

Esses terão pouca efetividade para o usuário dos serviços públicos, porém serão paradoxalmente um sucesso institucional gerando congratulações e premiações organizacionais. Essa situação retarda a eficiência do serviço público, mobilizando os preciosos recursos do país em ações vazias e infrutíferas num ciclo burocrático autorreferenciado.

Jornal de Brasília - 6/11/2019

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