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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

As pessoas estão com uma impressão negativa do nosso Supremo Tribunal Federal. Dois ministros são alvos esporádicos de ataques (um deles foi vítima de tomatadas numa ocasião e, em outra, de um irritante e interminável doesto em uma viagem aérea) e outros dois são alvos constantes de insultos e pedidos formais de impeachment junto ao Senado Federal, que é a única maneira de um ministro perder o emprego.

A iniciativa do impeachment é um tanto recente. Em tempos passados podia haver algum descontentamento mas mal se falava nisso; na verdade, os juízes do STF nem eram conhecidos do grande público, podiam transitar em ambientes como aeroportos e restaurantes e não seriam identificados e muito menos hostilizados. Nunca passou pela cabeça de ninguém pedir a demissão, por exemplo, do ministro Moreira Alves. Ao contrário. Se fosse possível, ele seria clonado e sempre teria um Moreira na composição da Corte, o que garantiria erudição, isenção e comportamento exemplar. E olha que ele nunca foi carismático e estava pouco se importando em dar entrevistas e construir uma imagem simpática. Sua preocupação era estudar, trabalhar e ensinar.

Será que a imagem do Supremo é justa ou superficial demais e, portanto, preconceituosa? Fato é que as pessoas conhecem uma parte muito pequena de seus trabalhos, ou seja, de pouquíssimos julgamentos que a imprensa resolve pautar como merecedores de figurar no noticiário. Mesmo assim, o que aparece são trechos mínimos de votos imensos, escritos em dezenas e dezenas de páginas, que consomem horas de leitura – e depois não serão necessariamente estudados com cuidado.

Talvez o STF não seja tão ruim assim. Talvez seja ainda pior do que se imagina. Para se ter uma opinião mais bem formada, não basta atuar profissionalmente na área jurídica; é preciso acompanhar bem de perto os trabalhos da Corte.

Jornal de Brasília - 7/1/2020

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