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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Vocês nunca pararam para pensar na monstruosidade que é uma sala de aula? Colocar 35 alunos sentados e um professor despejando conteúdo é uma experiência antropológica que tem tudo para dar errado. Apesar das aparências – carteiras iguais, o mesmo uniforme e, na escola em que estudei, o mesmo corte de cabelo –, o corpo discente é totalmente heterogêneo.

Vamos dividi-los em três grupos principais: os excelentes, os médios e os péssimos. Em todas as instituições, em todos os anos, em todas as matérias, é essa a composição básica. Uma turma fora de série será aquela em que os excelentes são mais numerosos que os péssimos ou, com sorte, os péssimos não são tão péssimos assim. São apenas ruins e, de preferência, não dão maiores alterações no quesito disciplinar.

O professor ensina a mesma coisa e aplica a mesma prova para pessoas cuja capacidade de absorção é completamente diferente. Os excelentes não têm problemas por causa da memória, concentração, curiosidade, ambição e, principalmente, porque estudaram por conta própria e foram além dos livros didáticos (que costumam ser repletos de inconsistências). Os péssimos têm dificuldades cognitivas ou psicológicas que exigem cuidado personalizado, para que não fiquem para trás, não se sintam ainda mais inferiorizados e consigam extrair algo de útil – ou pelo menos fiquem longe das grades das cadeias no futuro.

O colégio tem impacto para valer entre os medíocres, que podem ter dentro de si o senso de responsabilidade – maior do que o interesse real pelos romances de Graciliano Ramos ou pela batalha de Alcácer-Quibir –, no sentido de que intuem que deveriam estar ali, fazendo o que lhes é determinado pela grade curricular, incluindo a tortura das provas e das redações. Assim, a noção do valor das equações matemáticas é sub-rogada por uma obrigação moral difusa e mal elaborada.

Jornal de Brasília - 15/1/2020

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