Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Existe algo de errado com a instituição da escola se a maior parte de seus integrantes a detestam, se se sentem desencorajados a estudar e se a ideia de se submeter a provas é simplesmente medonha. Salvo raros casos, os alunos gostariam de estar em qualquer outro lugar, fazendo qualquer outra coisa.
O desafio pedagógico de reforma dessa realidade (se houver tal desafio) conta com um componente natural. Por mais preguiçosa ou desconcentrada que a pessoa seja, ela sente prazer em aprender coisas novas e superar dificuldades. Isso se aplica a todas as situações, desde as mais banais, como ter sucesso em um pequeno conserto doméstico, até os momentos mais agudos da vida.
Isso se aplica também às obrigações colegiais. Arrostar equações matemáticas é claramente algo assustador, mas o susto passa quando o conteúdo começa a entrar, os exercícios vão ficando mais fáceis e, com a repetição, até automáticos.
Mas a questão não termina aí. Mesmo os excelentes alunos podem ficar incomodados com um problema de base, que é a utilidade das matérias na vida prática. Ainda que inconscientemente, eles sentem que estão penas gastando seu tempo, dedicando-se a coisas que deveriam fazer – afinal, todos da sua idade estão no mesmo barco e portanto isso parece ser o “certo” –, mas sem saber ou intuir exatamente a razão.
Por que preciso decorar os golfos da Grécia e a Tabela Periódica? Para quê conjugar verbos na segunda pessoa? Afinal, o que estou fazendo aqui? Essas inquietações não são insolências e os alunos não devem ficar com vergonha de expressá-las, até porque suas respostas não são do tipo axiomático (“porque sim”) nem sádicas (“porque senão você não vai passar de ano”).
Na verdade, essas são as perguntas mais importantes que se deve fazer e existem excelentes respostas para elas, que os professores precisam ter na ponta da língua.
Jornal de Brasília - 22/1/2020
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