Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Quando lemos um livro que nos traz substancial conteúdo, somos tomados por uma sensação gratificante. Por outro lado, talvez opere uma azeda desconfiança de que o material já deveria ter sido incorporado a nosso patrimônio intelectual. Ou seja, que o livro já deveria ter sido absorvido, quem sabe anos e anos atrás, e assim se dispor de um acervo mental mais maduro e sofisticado.
Esse paradoxo se parece com um jogo de castelo de areia na praia, cujas ondas do mar vêm e destroem, especialmente quando o assunto é educação formal, permeada que é por elementos altamente burocráticos e que culmina com o enganoso encerramento de um ciclo e sua respectiva entrega do diploma.
O curso universitário que fiz – direito na Universidade de Brasília – tinha uma matéria pomposamente chamada “Teoria Geral do Direito Privado”, que nada mais era do que a análise da parte geral do Código Civil. Os alunos não aprendiam nada sobre a história nem do código e muito menos do direito civil, de tal modo que os ditames legais sobre capacidade, pessoas jurídicas, bens etc., entravam pelos olhos como a coisa mais óbvia do mundo. Só depois de “formado” é que se vai resgatar em profundidade os conhecimentos que precisavam ter sido prévios. Mesmo assim, nem todos sentirão a necessidade de fazê-lo e tocarão suas vidas profissionais como se essa lacuna não fosse lacuna nenhuma.
O que Shakespeare estudou na escola (se é que ele a frequentou)? Matemática e latim, seis dias por semana, doze meses por ano, na base da decoreba, exercícios intermináveis e surras dos professores.
Napoleão era excelente em matemática, geografia e história, mas péssimo em ortografia, soletração, alemão, inglês, desenho e dança.
Churchill tinha sérios problemas de atenção (e disciplina) e lhe foi autorizado a estudar o que quis: história, francês, poesia, além de hipismo e natação.
Jornal de Brasília - 29/1/2020
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