Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Não se tem certeza se William Shakespeare teve educação formal. Isso porque nunca foi localizado nada que o comprovasse de maneira inegável, ou seja, documentalmente, com algum boletim, relação de alunos, diplomas. Para piorar, as grafias da época eram descuidadas e diversas variações dos mesmos nomes eram corriqueiras.
Na verdade, não existe sequer sua certidão de nascimento, mas apenas seu batistério, datado de 26.4.1564, com o nome em latim “Gulielmus filius Johannes Shakspere”. Como era costume batizar bebês três dias após o parto, a data provável em que William veio ao mundo é o dia 23 anterior.
Nem todas as crianças iam para a escola. Shakespeare era de uma pequena cidade de 2000 habitantes e seu pai, de acordo com um documento oficial de 1561, foi identificado com a profissão de “agricola” (agricultor, em latim). De um modo geral, filhos de agrícolas e de pessoas pobres em geral – a grande maioria – começavam a trabalhar cedo. Embora o ensino fosse gratuito, alguns custos eram altos, como penas e faca para afiá-las, velas e o item mais caro de todos, papel. Afinal, escola significava uma boca a mais para comer e dois braços a menos para arranjar comida.
Se Shakespeare foi para a escola, esta decerto foi a King´s New School, que ficava a 300 metros de sua casa e recebia cerca de 40 meninos entre 7 e 15 anos (a escola ainda existe e passou a admitir alunas há menos de uma década), que deveriam ser matriculados já alfabetizados por alguém da família. As aulas começavam às 6 da manhã, 7 no inverno, e iam até as 18 horas.
Shakespeare nunca foi à universidade. Em parte isso lhe prejudicou pois, quando chegou a Londres, para trabalhar como ator e dramaturgo, encontrou o quadro intelectual e teatral dominado por poetas arrogantes oriundos de Cambridge e Oxford. Arrogantes, porém bastante eruditos, brilhantes mesmo.
Jornal de Brasília - 12/2/2020
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