Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Estudar gramática tem vantagens e desvantagens. As desvantagens são que você tem que ir para a escola – o que significa: acordar cedo, aguentar colegas chatos e se submeter a provas, redações e recuperações – para que o professor (que também pode estar em sua vida de maneira desagradável) faça explicações, tire dúvidas e indique bibliografia.

A vantagem é que, conhecendo a língua culta, você amplia seu auditório comunicativo, ou seja, consegue interagir com um maior número de pessoas em um maior número de contextos. Você sai da rua, deixando de se relacionar apenas com quem fala o vernáculo de maneira precária, e passa a entender e se fazer entender com mais profundidade e substância (a gama de temas e o repertório vocabular são aprimorados concomitantemente nesse processo). Você se torna uma pessoa mais interessante e é tratado com mais deferência pelo mundo. Quem não estudar gramática está condenado a conversar somente com aqueles que também não estudaram e se expressam na base de calão e palavrão.

Se você pensar bem, o resultado do domínio gramatical seria o mesmo ou até melhor, senão muito melhor, se o procedimento fosse diferente, isto é, se o aluno estudasse por conta própria. Se fosse à livraria ou à biblioteca, pegasse a gramática adotada por alguma escola considerada “boa” (ou que já tivesse dezenas de edições), lesse de cabo a rabo várias vezes e fizesse os exercícios, e depois lesse outra gramática e depois mais outra e assim por diante. Só isso.

No nível superior é a mesma coisa. Quer conhecer o direito civil, é só fazer como sugerido acima. Mesmo que seu professor seja excelente, só no deslocamento para a faculdade você já está perdendo tempo. Você precisará de alguém de carne e osso à sua frente, sim, para outros tipos de conhecimento, não para saber a diferença que existe entre anticrese e enfiteuse.

Jornal de Brasília - 19/2/2020

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