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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Como Machado de Assis conseguiu traduzir “Os trabalhadores do mar”, de Victor Hugo, e “O Corvo”, de Poe? Como conseguiu escrever um romance como Quincas Borba? Como conseguiu escrever tantos contos, crônicas e poemas, desde a adolescência, lembrando que vários fatores lhe eram objetivamente desfavoráveis, como a pobreza e a saúde? Observação: a cor da pele merece uma reflexão à parte.

Quem alfabetizou Machado? Ele foi para a escola? Se foi, que escola foi essa, quais matérias estudou, como foi seu rendimento? Shakespeare teve os “anos perdidos” de obscuridade biográfica, mas Machado também teve os seus. Dos 10 aos 15 anos nada se sabe sobre as condições reais em que viveu (esse foi justamente o período em que perdeu a mãe e o pai se casou de novo).

Alguma informação sobre sua juventude veio por terceira pessoa. Em fins do século 19, Arthur Azevedo dirigiu um hebdomadário chamado “O Álbum”, que publicava “um retrato de pessoa notável”, ou seja, um perfil de personalidades destacadas da época. Foram mais de cinquenta. A de Machado saiu em janeiro de 1893, revelando que teve estudos “muitos irregulares”, deixou o colégio apenas alfabetizado e se instruiu a si próprio.

Isso tem valor porque Azevedo conhecia bem Machado. Eles foram colegas no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, e também na Academia Brasileira de Letras. Quando saiu a edição dessa revista, Machado tinha mais de 50 anos, é óbvio concluir que a leu e não consta que tenha feito objeções. Provavelmente foi ele mesmo quem fez revelações a Azevedo, embora fosse muito reservado, era avesso a falar sobre si mesmo e quase não cultivava vida social.

Tampouco se sabe se ele ficou orgulhoso de ser retratado como um autodidata que em muito superou quem fez faculdade ou se formou no exterior, ou com vergonha de ser filho de um modestíssimo pardo forro.

Jornal de Brasília - 4/3/2020

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