Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Em 2.12.1855, dia em que Dom Pedro II completou 30 anos de idade, foi publicado um poema em sua homenagem na edição 654 no jornal “Marmota Fluminense” (facilmente acessível na internet). O autor se identificou como “J. M. M. d´Assis”. Era Machado de Assis, então um rapaz de tenros 16 anos.
O editor do periódico, Paula Brito, era impressor da Casa Imperial e a Marmota recebia subvenção do governo. Ou seja, o poema tinha algo de louvação interessada. Os versos exaltavam sua majestade, elevando-a “aos umbrais da imensidade” e afirmando que teria “fama, respeito e amor imenso”, além de “um nome transmitindo à Eternidade”.
Nosso Rimbaud mulato não quis desperdiçar a oportunidade de ter publicado um poema seu, ainda que de maneira mais ou menos encomendada. De qualquer forma, o tempo se encarregou de transparecer que, na vida adulta, a admiração por Pedro não era hipocrisia.
No final da década de 1880, dois fatos políticos abalaram o país: o fim definitivo da escravatura, em 88, e a proclamação da República, no ano seguinte. A composição de ambos os elementos não era óbvia. Nem todos eram favoráveis à abolição da escravidão nem da monarquia. Machado, por exemplo, era a favor da primeira, mas não da segunda.
A escravatura foi extinta, mas não é exagero dizer que seus efeitos ainda perduram nos tempos de hoje; o país não se recuperou totalmente dos mais de três séculos de cativeiro. Já a monarquia poderia ter sido restaurada. Na verdade, o governo republicano foi proclamado a título provisório, como consta do artigo 1o do Decreto 1o, de 15.11.1889. O “pronunciamento definitivo” viria pelo “voto da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular”, o que só ocorreu em 1993, quando a república venceu com quase 90%.
A essa altura, falar em monarquia era como colocar a pasta de volta no dentifrício, como diria a presidenta Rousseff.
Jornal de Brasília - 18/3/2020
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