Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Na manhã do chamado “18 de Brumário” -- o dia 9.11.1799 no calendário gregoriano --, o general Buonaparte chegou ao número 6 da rua de La Victoire, antiga rua Chantereine (as revoluções costumam renomear logradouros mas, principalmente, inventar fatos passados, repristinar heróis e fazer promessas formidáveis), com o objetivo de “salvar a república”, ou seja, tomar o poder. A constituição francesa permitia que o governo, chamado Diretório, fosse composto por integrantes com mais de 40 anos de idade e o general tinha apenas 30. Quando decidiu ingressar na política, seu plano inicial era se tornar um diretor.
Por volta das 20 horas, após muita confusão, mas nenhuma violência (ninguém morreu), o Diretório foi extinto e foi formada uma comissão temporária, com o próprio Buonaparte, Roger Ducos e Sieyès, autor do livrinho “O que é o Terceiro Estado?”, que todos os estudantes de direito no Brasil leem na faculdade. Ou quase todos. Ou alguns.
Para resumir, saiu de cena o Diretório e entrou o Consulado (Napoleone naturalmente era o “Primeiro Cônsul” e depois foi nomeado e coroado por ele mesmo “Imperador”, embora a França fosse uma República) e uma nova constituição, a quarta do país em dez anos.
O Primeiro Cônsul passou a selecionar os outros cônsules, a começar por um advogado peralvilho chamado Cambacérès. Depois, quis alguém mais velho, economista e oriundo do Ancien Régime; foi-lhe sugerido o normando Lebrun. Napoleone não o conhecia e tentou se informar melhor, pedindo a um aliado, Roereder, que lhe enviasse “seus escritos”. Roereder perguntou se ele se referia a seus discursos na Assembleia e a resposta foi matadora: “não, os seus livros”.
Napoleone acabou achando Lebrun um gênio das finanças. Deitava em sua cama – isso mesmo – e ali recebia aulas de economia, taxas bancárias, dívida pública, essas coisas tão interessantes.
Jornal de Brasília - 1/4/2020
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