Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Napoleone Buonaparte se casou duas vezes. A primeira, por amor, com uma viúva seis anos mais velha e dois filhos (desconfio que os homens que se casam com mulheres mais velhas e com filhos pegam fila preferencial no Purgatório; quanto mais velha e mais filhos, mais a fila anda).
Melhor dizendo, ele se casou por amor. Ela, não. Ela gostava dele e olhe lá. Seu nome era Maria Josefa, mas o general a chamava de Josefina (algumas pessoas gostam de rebatizar outras, chamando-as por nomes exclusivos; quando os novos nomes pegam e passam a ser usados a granel, são abandonados e reinventados).
O corso escrevia cartas apaixonadas para a mulher que, em geral, ignorava. A madame preferia desfrutar da companhia de outros homens, o que fez diversas vezes, a mais notória de todas quando o marido estava em campanha de guerra no Egito. Ela namorava abertamente um sujeito chamado Hippolyte Charles. Josefa disse que ninguém sabia dar um nó de gravata como Hippolyte Charles, vejam vocês.
Napoleone ficou sabendo desse nó e também deu suas aprontadas (e aqui a fila do Purgatório para). Quando voltou para a França, sem medo da pecha desconfortável de marido traído, perdoou as dívidas de fidelidade da esposa e nada fez com o amante peralvilho (a fila andou).
Depois foi que Josefina se apaixonou pelo marido; essa história de “felicidade vem depois” não é tão fictícia quanto dizem. Mas aí era tarde. Sem ter lhe dado herdeiros de sangue, Buonaparte a exonerou e partiu para um matrimônio (a fila para), aí sim dinástico, com Maria Luisa, em prol de uma aliança militar com o império Habsburgo.
Maria Luisa era irmã germana de Leopoldina, que se casou, também por arranjo, com Dom Pedro, nosso primeiro imperador. Napoleone desgraçou a família real portuguesa, que fugiu para a colônia, e mesmo assim Pedro o considerava o maior homem que já existira.
Jornal de Brasília - 2/7/2020
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