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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

No capítulo “O jantar” de “O Conde Monte Cristo” (parte IV, capítulo 6), o anfitrião, que dá nome ao romance, oferece uma recepção em sua residência na avenida Champs-Élysées, em Paris. Uma dezena de pessoas desfrutou de um festim esplêndido, digno das “fadas árabes”.

Havia frutas dos “quatro cantos do mundo”, aves raras apresentadas “com a parte brilhante de sua plumagem” e vinhos produzidos na Grécia, Ásia Menor e África do Sul. Deviam ser excelentes.

Mas o que mais maravilhou os comensais foram dois peixes, um estrujão-sterlet e uma lampreia. O primeiro fora pescado no rio Volga, na Rússia, e o segundo, no lago de Fusaro, na Itália. E foram servidos na mesma mesa, na mesma ocasião. Os convidados exclamaram que isso era impossível e um deles, o Sr. Danglars, instado a declinar se acreditava ou não, disse que desconfiava.

O anfitrião então mandou que buscassem outro exemplar de cada peixe, que ainda estavam vivos. Quatro criados trouxeram dois tonéis, um de bambu e ervas do rio, onde um sterlet vivia havia doze dias, e um de juncos e plantas lacustres, onde uma lampreia nadava havia oito. A mesa aplaudiu e o Sr. Danglars não teve saída senão aceitar a realidade, com olhos esbugalhados, e admitir que o Conde era o que era, um homem prodigioso.

E por que duas unidades de cada? “Porque um deles poderia morrer”, foi a resposta. Os que estavam na mesa chegaram vivos e feneceram nas mãos do cozinheiro, um no leite e o outro no vinho.

Digo eu: os que viraram pièce de résistance do banquete ficaram orgulhosos e felizes porquanto cumpriram sua missão na Terra, que é a de servir os seres humanos. É para isso que os bichos existem. A objeção de que os animais também sofrem é verdade; até um tucunaré agoniza quando percebe que chegou sua hora. Mas o que importa na vida não é o sofrer e sim saber o que fazer com ele.

Jornal de Brasília - 22/7/2020

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