Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça
Se existe algo sumamente valioso é a própria experiência de vida. Ela sofistica conhecimentos consolidados e os projeta na administração de situações futuras. É mais fácil lidar com algo que se conhece do que com uma novidade completa: isso é a bagagem da experiência agindo no indivíduo, a ponto de as coisas ficarem banais e até automatizadas.
A experiência requinta a própria experiência, ou seja, transforma preconceitos em conceitos, moldando aquilo que se intui com a demão dos ajustes concretamente necessários. No meio jurídico é muito utilizada, nessas horas, a locução latina “quod plerumque accidit”, que significa “o que costuma acontecer”. O acervo da ciência se aplica no tempo presente à luz de detalhes que reclamam alguma dose de adaptação, em uma espécie de segunda potência da sabedoria.
Todavia, a vivência tem um lado insidioso, que é o de lhe atribuir uma relevância exagerada ou irreal. Que o que o passado já provou, nem sempre de maneira indolor, funcionará como acicate suficiente para o que ainda vem por aí. A pessoa fica usando respostas velhas para perguntas novas.
Talvez problemas novos consigam ser respondidas, mutadis mutandis, com soluções antigas. Talvez não. E aí o processo constante de aprendizagem pede um esforço mais aprofundado de reciclagem. Ou então a pessoa se aboleta no anteontem e passa a picar os outros com o discurso amofinado do “no meu tempo”, que serve como analgésico para se livrar de um problema com dignidade, mas sem resolvê-lo.
Uma instituição qualquer, pública ou privada, somente encontrará um ponto de equilíbrio razoável, bom ou ótimo – nunca perfeito – em seu ingrediente humano na conjugação daquilo que as fases da vida têm de bom a oferecer. Moços trazem energia e velhos contribuem com moderação. Uma instituição demasiado juvenil é tão perversa quanto outra madura demais.
Jornal de Brasília - 23/9/2020
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