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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Quando ingressei no Ministério Público, meu aspecto era de rapaz jovem, não tinha “cara de promotor” (talvez tivesse cara de estudante de educação física ou talvez não tivesse uma cara específica). Um colega, esse sim, tinha cara de promotor. Era corpulento, barbudo, meio suado, com jeito de linha dura, a voz roufenha. Não vou revelar seu nome, ele é aposentado mas ainda está por aí.

Eu queria ter a cara desse colega, mas só para fazer as audiências. Após, preferiria devolvê-la e voltar para a minha mesmo.

Depois, veio uma safra de promotores mais almofadinhas, que usam abotoaduras, são malhados, curtem cervejas artesanais e desfilam erudição com citações em línguas. Nada de pescarias no interior de Goiás nem de serestas em bibocas e sim viagens gastronômicas pelas Europas, de preferência no outono. Ou na primavera.

Que tipo terá correspondido melhor aos anseios do tal “interesse público”? O da velha escola ou o bonitinho? Ou os estereótipos não iluminam bem a questão porque, na verdade, houve e há bons e ruins de todos os gêneros e com as próximas gerações não será nada diferente?

Será que dominamos mesmo os nossos ofícios, não apenas os promotores, mas os profissionais em geral? Você não fica desconfiado de um advogado que não conhece, ou um dentista, um fisioterapeuta, um psicólogo, um agrônomo, mesmo que tenha sido bem recomendado? Será que ele estudou para valer? Ou apenas o suficiente para passar raspando e colar grau? O quanto sua prosódia, seus ademanes e seus diplomas na parede enganarão?

Pare para pensar. Nós não sabemos fazer as coisas mais rudimentares do mundo. Não sabemos andar. Não sabemos comer. Não sabemos dormir. Não sabemos respirar. Nós fazemos essas coisas básicas, claro, mas não com perfeição e sim com vícios que podem prejudicar nossa saúde a curto, médio e longo prazos, de uma maneira ou de outra.

Jornal de Brasília - 16/12/2020

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