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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

O escritor israelense Amós Oz se queixou de jamais ter visto um político no Parlamento virar-se para um adversário e reconhecer: “ouvi seu discurso e ele me abriu os olhos, e percebi que você tem razão”.

Isso significa que não há aqui uma capacidade mínima, uma humildade (intelectual e moral), uma generosidade de escutar um antagonista e reconhecer seus méritos, perceber que tem alguma razão, que tem muita razão, que tem toda a razão, que a razão, a verdade e a justiça estão muito acima das divergências momentâneas, das vaidades, das mesquinharias.

O raciocínio é estendido para a vida forense: “em todos os anais de tribunais no mundo inteiro não aconteceu uma única vez que um advogado de defesa ou um promotor tenha se levantado ao fim do discurso do outro causídico” e admitido que o outro estava certo e ele próprio “totalmente enganado”.

Aqui Oz comete um pequeno exagero. Para quem não sabe, no Brasil, é possível – e um tanto corriqueiro -- o promotor arquivar uma investigação que não produziu evidências suficientes, ser favorável à liberdade do réu, pedir absolvição, concordar com o recurso do acusado e até recorrer em seu favor.

Um promotor bem resolvido não se sente desconfortável em elogiar seu ex adversus na frente de quem quiser ouvir. Mas não vamos confundir uma sustentação formidável com a perda na fé de convicções consistentemente formadas. Ser brilhante é uma coisa, falar em nome de um acusado inocente é outra.

Mas está de pé o problema da disposição em ouvir – e ouvir com atenção, com paciência, sem travas, sem preconceitos bobos, sem risinhos de deboche (em inglês, há uma ótima palavra para isso: “scoff”). Isso acontece até entre amigos ou marido e mulher. Quando uma ideia nova é incoada, quase sempre é sumariamente descartada por quem não sabe exatamente a razão nem tem outra melhor para sugerir.

Jornal de Brasília - 6/1/2021

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