Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Que imagem forte aquela do homem das cavernas usando um truque infalível de conquista do sexo oposto: um belo golpe de porrete, com arrastamento pelos cabelos para seu desfrute infrene e impune.
Será que essa cena não passa de uma idealização de mau gosto, preconceituosa e, sobretudo, injusta? Que a história, ou melhor, a pré-história e a história de homens e mulheres são marcadas mais pela amizade do que pela desafeição? Pelo carinho, atração e enlevo, e não medo, repulsa e nojo? Pelo ciúme como expressão de exclusividade sentimental, não de posse como objeto de necessidades do básico ao acabamento?
Se as hipóteses verdadeiras forem as funestas, como conseguimos chegar até aqui? Por que eles e elas continuam se apaixonando, namorando e se casando, com muitas uniões produzindo resultados notavelmente satisfatórios? Por que mulheres que tiveram péssimos matrimônios, com maridos agressivos ou vagabundos, não desistiram do amor e ainda estão abertas para um relacionamento se não feérico, ao menos cuidadoso?
Será que, muito pelo contrário, os homens das cavernas (aliás, que cavernas? As de australopitecos semi-simiescos ou de hominídeos modernos?) não eram valentes e generosos por deixarem suas moradas e enfrentarem todos os tipos de perigos mundanos para providenciar víveres para o seu par, a mãe do seu par, as crianças ou outras pessoas, quando voltasse, se voltasse? Tudo isso em nome de quê?
Uma coisa dispensa demonstração empírica: se as nossas ancestrais não tivessem se alimentado o suficiente para desenvolver suas capacidades cerebrais – necessariamente com a proteína que vem da carne animal --, a humanidade enquanto espécie teria se extinguido. Ou então subespécies desapareceram, perpetuando nas paredes das cavernas o testemunho de vestígios pictóricos evasivos justamente porque cultivavam a porretada na cabeça.
Jornal de Brasília - 13/1/2021
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