Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Marcio Mafra
Juiz Federal
Brasília pode se considerar um centro produtor de alta cultura? Criamos ou adotamos um escritor privilegiado, um poeta de truz, um compositor erudito? Há aqui nas centrais um intelectual-artista que deu uma paleta larga de cores das emoções humanas: paixão, ira, vingança, humor, pecado, miséria e redenção?
Pois em Brasília faleceu recentemente um gênio da terra, embora nascido em Fortaleza-CE.
Temístocles Mendonça Castro, ou T. M. Castro, deixou uma obra notável em diversas frentes, dois romances, textos em jornais, material jurídico, tiradas e frases de efeito, espetáculos no Tribunal do Júri, jantares que mereciam ser gravados.
Ele foi um cardeal no Ministério Público do Distrito Federal, o seu nome mais pesado e mais temido. Polímata e polêmico, vibrante e vaidoso e genioso, o nosso Truman Capote patrocinava tertúlias aos domingos dedicadas a leituras dos sermões do Padre Antonio Vieira. Os principais temas que percorreram seus interesses foram o vício e a virtude; a tensão entre ambos o fascinava, com uma quedinha mal disfarçada pelo primeiro.
Seu romance de estreia, “Lia e sua Gente”, é uma reconstituição bíblica no sertão do entorno do DF. Nele, a língua portuguesa e sua plasticidade ganha alturas pouco vistas, com pitadas de humor, metáforas e alusões sofisticadas.
“Uma Comédia Vil”, sua segunda novela, é mais clássico, uma história bem contada, com diversos toques autobiográficos. Nele, o autor põe todo o seu humor ácido e talento de provocateur, brincando com a já dita dicotomia entre o sagrado e o profano.
T. M. Castro se juntou a uma galeria de talentos principiada por Camões e deve estar agora ao lado dos seus semeando a boa discórdia, bebendo muito e não fumando menos – afinal, de todos os vícios, o uso linguístico do gerúndio, esse sim, ele considerava imperdoável.
Jornal de Brasília - 10/3/2021
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