Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Estamos em 2021, há quase século e meio sob a égide do regime republicano. Nenhum de nós sobreviveu à monarquia e não pode afirmar, por experiência própria, se esta foi melhor do que aquele. Sabe dizê-lo quando muito por estudos, reflexões, saudosismo, imaginação ou até repúdio à política que cotidianamente vivencia. Talvez por detestar os presidentes e os governos, o sujeito encontre uma saída paregórica, uma aposta no diferente, mesmo que sem nenhuma garantia de melhoramento.
Houve um plebiscito no país com a finalidade de se decidir entre presidencialismo ou parlamentarismo e república ou monarquia. O plebiscito havia sido prometido pelo artigo 7o do Decreto no 1, de 15.11.1889, que proclamou “provisoriamente” a República Federativa e avisou que aguardaria “o pronunciamento definitivo do voto da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular”. Mas o pronunciamento aconteceu mais de um século depois, em 1993, quando a carruagem do “Imperio do Brazil” já havia passado há muito tempo.
Os Estados Unidos do Brasil foram um golpe? Foram fruto da vontade efetiva do povo brasileiro ou retaliação da elite agrária pela extinção da escravatura, no ano anterior? Houve ruptura da ordem constitucional?
É importante fazer uma pausa conceitual e explicitar com clareza o que se chama de “golpe”, sob pena de se conversar sobre rótulos e não sobre fatos. O que é um golpe? Talvez o que uns chamem disso outros não o considerem como tal e eventuais divergências ideológicas poderiam ser mais bem trabalhadas em um terreno vernacular comum. Se não, as palavras voam sem muito sentido, não mais do que como ideias vagas. Ou melhor, como insultos.
O mesmo vale quando se acusa alguém de “ladrão”, “genocida”, “fascista”, “ditador”, “homofóbico”, “preconceituoso”. O termo “preconceito” é o que se agita de maneira a mais preconceituosa.
Jornal de Brasília - 14/7/2021
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