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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Difícil imaginar um filme como “Silêncio dos inocentes” ser produzido nos dias de hoje. Sujeito transsexual abduz garotas acima do peso e as deixa definhar até ficarem flácidas. Depois, retira-lhes a pele e com ela costura peças de roupa.

Dois personagens entram na trama. Uma do bem: estagiária da polícia perspicaz e “humana”, que vai descobrindo tudo (quem, porque, onde) valendo-se da ajuda de alguém muito do mal e muito pouco do bem: um preso chamado Dr. Lecter, homem brilhante, sofisticado e com informações preciosas mas também mendaz, debochado e perigoso, nada menos do que canibal. 

O fato de o transsexual do filme fazer o que fazia não significa que os demais transsexuais também o fizessem ou o fariam, que são todos iguais, capazes de torturar e matar para satisfazer seus desejos mais egoístas. A estagiária disse que não há na literatura relação entre violência e transsexuais e que estes são “muito passivos”. 

Mas a simples hipótese de “hasty generalization” que possa espicaçá-los já basta porque, passivos ou não, eles vêm sendo tratados com condescendência sem comparação. No Brasil, são os únicos indivíduos que podem alterar seus nomes diretamente no cartório, sem qualquer comprovação documental. Um dia terão exclusivos e ociosos banheiros em repartições públicas. 

Dr. Lecter, o canibal, tinha um diagnóstico menos óbvio do celerado semi-canibal: o de que este achava que era transsexual -- mas não era. A coisa era “mil vezes mais selvagem e medonha”. De fato, suas metamorfoses dançantes jorravam na solidão de seu labirinto infecto; na rua, ele tinha aparência masculina ordinária e até um vozeirão respeitável.

Seus manequins eram agulhadas em seus direitos potestativos de lobo em pele de mulher. O corpo dele era uma prisão. 

Mas não só o dele. A questão é saber com quantos prisioneiros cada um tem que dividir sua cela.

Jornal de Brasília - 28/7/2021

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