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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT  

Não é prazenteiro processar criminalmente alguém como Jim Morrison. A imagem que policiais e promotores passam é a da caretice, da impertinência, da ranzinzice. 

Jim, afinal, era uma celebridade do roque. Na casa dos 20, talentoso, instruído e bem apessoado, era um ser magnético que acontecia nos palcos e fora deles. Tinha uma legião de admiradores e isso até hoje não se hauriu: 50 anos após seu falecimento, sua sepultura é um dos monumentos mais visitados por turistas em Paris, onde se encontram seus restos. 

Mas ele tinha um lado sombrio – e ilegal. Foi preso seis vezes na vida, em cinco diferentes estados dos EUA, por arruaças, incitação a violência, esse tipo de coisa, tudo regado a quantidades fabulosas de álcool e tóxicos. 

A versão oficial, fruto de uma autópsia superficial, de que teve um infarto quando estava em sua banheira, é inverossímil. Parece mais provável que tenha sofrido overdose de uma heroína (droga que não consumia) muito pura conhecida como “china white” e morreu na própria boate onde a ingeriu. Depois foi carregado pelos traficantes para casa. 

No processo que lhe rendeu condenação criminal, em Miami, Jim subiu ao palco bastante alterado. Errático e inconveniente, chamou os espectadores de “escravos” e “bando de idiotas” (este insulto foi incrementado com um adjetivo chulo em inglês que começa com a letra F); perguntou se eles estavam ali para ver sua genitália e por aí foi. 

Colocar Jim no banco dos réus é apagar as luzes da fantasia e da descrença e se transpor para uma realidade hostil mas monótona, em que aguazis apregoam mecanicamente números de autos pelos corredores. Há mais ensaio na arte do que improviso na vida real. O promotor indagou se Jim achava que tinha o direito de desobedecer leis, ou se achava que não vigorava lei nenhuma. Pena que não houve resposta. O juiz indeferiu a pergunta.

Jornal de Brasília - 18/8/2021

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