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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Durante o império brasileiro, funcionou um ente estatal chamado Conservatório Dramático, que avaliava o conteúdo de peças teatrais, cuja produção dependia de seu aval. A palavra que se usa nessas horas é “censura” mas não pelo próprio censor, que prefere alternativas para edulcorar sua competência e suas melhores intenções.

Quem integrou o órgão por anos foi Machado de Assis, ele próprio ligado ao meio literário/dramatúrgico pois militava na autoria e tradução de peças e poemas que eram encenados e declamados em público.

Quando debutou como romancista, Machado ainda era censor, ou “vogal”, como se dizia. Embora tenha sido reconhecido, em vida, como o maior escritor que o país já conheceu -- crachá que ainda ostenta mais de um século após sua morte –, ele não deixou de ser alvo de reclamações de pessoas que, por evidente, não queriam ter suas obras vetadas. Há indícios de que prometera deixar o cargo mas não o fez, provavelmente por razões ditadas pela necessidade financeira.

Dois veículos de imprensa que mais censuraram o Censuratório foram “A Reforma” e a “Vida Fluminense”. Todavia, ambos se queixaram da aprovação de “O condenado”, que parodiava um episódio real de homicídio. Ou seja, Conservatório nos olhos dos outros é refresco.

Há quem diga que não há imoralidade na arte. Em uma frase famosa, Oscar Wilde sustentava que “não há livros imorais e sim bem ou mal escritos e isso é tudo”. O raciocínio parece arguto mas a separação entre a vida pensada e a vida vivida não é tão esquemática quanto supõem os devaneios de indenidade jurídica dos artistas; muitos tiveram que se explicar nos Conservatórios da vida e até nos tribunais, o que incluiu próprio Wilde, com resultado trágico.

Nem todos se animariam a levar a avó ao cinema ou a um show de stand-up para ver um espetáculo recheado de cenas picantes e palavrões.

Jornal de Brasília - 11/11/2021

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