Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
As pessoas tendem a ficar deslumbradas com a palavra “ciência”. Ao mesmo tempo, desconfiam ou desdenham daquilo que não é “científico” ou que não tem “base” científica. Gostam quando ouvem falar de “uma pesquisa” universitária, muito de preferência europeia ou americana, que tenha “comprovado” determinada “descoberta”.
Mas qual é a diferença entre o conhecimento científico e o não-científico? Essa pergunta parece fazer sentido à medida que a nêmesis do primeiro não seria tanto a ausência de qualquer saber e sim o saber banal, raso, desarticulado, enganoso. Aquele seria sua instância mais aprimorada, sua enteléquia.
Vamos convir que o conhecimento vulgar não é necessariamente errado nem o científico é por si só verdadeiro. Ao contrário, “a maioria das nossas teorias é falsa”, avisa o maior especialista no assunto, Karl Popper, mesmo quando frutificadas na climatização ideal de um laboratório que deixou do lado de fora finanças industriais e interesses políticos, uns mais urgentes do que os outros.
Usamos rotineiramente água e sabonete para higienizar o corpo, sem preocupação em intelectualizar o banho e perquirir como exatamente a água foi encanada ou detalhar o sabonete como uma combinação de hidróxido de potássio e carbonato de sódio, dentre outros insumos químicos. Uma mãe que nada sabe sobre nada disso evitará o sabonete que vem comprando se notar que a pele de seu filho vem ficando irritada, pela simples ação da experiência. E, num esforço do tipo tentativa e erro, buscará alternativas para contornar o problema.
A distinção entre os conhecimentos vulgar e científico não é a provisoriedade ou a precariedade de suas conquistas e sim a verificação metódica delas, a generalidade das categorias, a síntese em conceitos e leis, a profundidade tanto vertical quanto horizontal. É a troca de uma letra: o casual pelo causal.
Jornal de Brasília - 24/11/2021
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