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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Oficial do exército nazista se depara com sujeito de aspecto doentio, retorcido, desgrenhado, andrajoso, brigando contra uma lata de picles de pepino que talvez fosse sua única fonte de calorias da semana. Eles não sabiam que dividiam o mesmo teto em Varsóvia – nesse particular, eram ambos esbulhadores de uma propriedade que não lhes pertencia, mas o alemão “ocupou” um país que não lhe pertencia enquanto o mendigo ao menos tentava sobreviver na sua própria terra.

 

O mendigo informa que é pianista e o militar o conduz a um piano e diz, toque. Uma coisa formidável acontece. Daquelas mãos pele-e-osso sai um dos Noturnos de Chopin, num concerto exclusivo, magistral. De mendigos não se espera tal coisa mas as aparências enganam. O ajuste de algumas aparências à luz meridiana da realidade foi o maior dos desafios que a Segunda Guerra legou às gerações seguintes, coisa longe de estar consolidada. Daí porque ainda se fala tanto sobre o assunto.

 

O oficial não poupou a vida do inimigo por reconhecer que tinha um gênio diante de si. Pode-se até decidir quem é ou não gênio mas se se achar que também é dado determinar quem merece ou não viver – bem, os currais cercados por arame farpado e os trens de gado rumo a campos de trabalho ou de extermínio mudam radicalmente de ocupantes da noite para o dia.

 

O gênio era apenas circunstancialmente mendigo e o alemão era apenas circunstancialmente nacional-socialista. Este, na verdade, deplorava o terror da guerra, conforme anotou em muitas passagens de seu diário anos antes do episódio em questão.

 

O oficial entrega seu sobretudo ao mendigo, que quase morre na praia por conta disso: ao perceber que era seguro o bastante sair à rua, é alvejado por militares que se confundem. Por que essa japona Hugo Boss, seu louco? Porque estou com frio, é a resposta cândida, doce. Barba non facit philosophum.

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