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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

“As pupilas do Senhor Reitor”, pseudo-romance de formação de Júlio Dinis, trama um quarteto amoroso entre dois irmãos, Pedro e Daniel, e duas irmãs, Margarida (Guida) e Clara, todos moradores de uma área rural de Portugal no século XIX.

Daniel tem um namorico juvenil com Guida mas parte para a cidade grande, o Porto, onde vai estudar medicina. Quando volta, Pedro está noivo de Clara, por quem Daniel caprichosamente se apaixona, ao tempo em que mal se lembra de Guida.

Guida e Clara, órfãs de pai e mãe, são cuidadas pelo pároco, o “Senhor Reitor” do título da obra. Ele não é apenas o tutor das moças, como também a força moral do vilarejo. Acompanha tudo o que ali acontece e age de maneira dinâmica, precisa e, sobretudo, com a autoridade fecunda da sabedoria.

Pedro continuou o camponês que sempre foi, um homem rústico e trabalhador, simples, enquanto seu irmão, ao voltar para a terrinha, faz pose de altaneiro, dono de anel forjado na civilização. Na verdade, Daniel não passava de um playboy pernóstico e desenxabido que achava que um pedaço de papel basta para conquistar o respeito dos matutos; nem conhecimentos em sua área de instrução educacional lá parecia ter, muito pelo contrário.

No capítulo XXIV, Daniel resolve tirar sarro com “um velho criado da quinta” onde morava. Mandou o fâmulo subir a seu quarto e pediu para puxar conversa. Pego de surpresa, o velho mencionou o vento e Daniel indagou se ele sabia o que era o vento. Como a resposta foi titubeante, Daniel chamou o interlocutor de “asno”. E explicou que se trata de “uma corrente de ar, produzida pela desigual distribuição de temperatura na atmosfera”.

Mas o velho não passou recibo e desafiou: e “donde vem o vento e para onde vai?”. O gabola fracassou e ficou embaraçado. Pois é. Ventum seminabunt et turbinem metent. E mais: Vir prudens non contra ventum mingit.

Jornal de Brasília - 12/1/2022

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