Patricia Mara da Conceição
Promotora de Justiça do MPDFT
Quão diverso pode ser nosso chamado, vocação?! Investir em amor-próprio, ao próximo, plantar amor por onde se passa?! Na fluidez da vida, saber pausar, replantar, florescer, reconhecer, cativar e recolher amores.
Um novo ano sempre nos instiga à repaginação, mas também ao desapego. Reabre-se a possibilidade de deixar partir e confluir com o universo o que não nos representa mais, na metamorfose natural da vida.
A partir do contentamento com a caminhada percorrida, renova- se a possibilidade de florescer aonde fomos plantados, nos reinventar, ocupar nosso lugar consagrado no planeta.
Pés fincados no prosaico, a tal disciplina que é liberdade, para poder depurar o olhar, torná-lo auspicioso, realinhando existência e essência.
Prosperar na impermanência da vida, permeada de dualidades, dores e amores, mas instigados pela poesia, arte, filosofia.
Na naturalidade do caminho, reconhecer as próprias trevas, driblar jogos mentais, reverter, sorver a luz, lampejos de afeto, alento, renovação de escolhas e de possibilidades.
Ter olhos bons para poder enxergar o que de fato importa e permanece, identificar e desmistificar o bem no olhar cansado do outro, não se frustrar com a projeção da própria sombra, com a expectativa que se projeta em ombros alheios, às vezes até mais desalentados que os nossos. Debelar, transmutar frustração em responsabilidade, recomeçar comprometidamente.
Poder ser e sentir-se novamente criança, exercitando o hábito da virtude platônica, paz interior no exercício da ataraxia.
Crer na elasticidade socrática, que nos provoca à reflexão da vocação e porque não na vocação propriamente dita para a felicidade de Aristóteles.
Qual borboleta você vai forjar esse ano em órbita fina com seu chamado, na metamorfose da vida, ocupando seu lugar e espaço sagrado no mundo?!
Jornal de Brasília - 19/1/2022
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