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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

“As pupilas do Senhor Reitor”, romance de Júlio Dinis, trama um quarteto amoroso entre os irmãos Pedro e Daniel e as irmãs Guida e Clara, moradores de uma localidade rural portuguesa no século XIX. Guida e Daniel têm um flerte juvenil mas ele parte para a cidade grande, onde vai estudar medicina. Quando volta, apaixona-se por capricho por Clara, que está comprometida com Pedro, ao tempo em que mal e mal se lembra de Guida.

Daniel nutre uma rivalidade geracional com o facultativo do vilarejo, o idoso e conceituado João Semana. Aquele significava o avanço da ciência, as luzes da eletricidade, as opiniões “revolucionárias”, enquanto o outro era o embaixador do cotidiano, da anamnese complacente, da aversão negacionista ao que denominou de “fábricas de moléstias novas”.

Daniel faz uma visita ao tendeiro João da Esquina (que nem era o enfermo da casa, e sim a filha, a trigueira Francisca), que o recebe “meio desconfiado, e como hesitando em entregar-se aos cuidados da medicina nova”. Segue-se entre ambos um diálogo tenso porém divertido e um tanto disparatado, a ponto de Daniel suspeitar que o distúrbio em investigação era de natureza mental.

Ao fim, Daniel proclama o diagnóstico e receita medicamentos, incluindo instruções sobre a preparação do arsênico. Ao ouvir tal palavra, Esquina é tomado por susto e indignação: “o senhor quer que eu tome arsênico?!”. Daniel insiste, defende o remédio como “heroico” e “prodigioso em muitos casos”, ilustrando que os cavalos austríacos de “boa raça” comem-no com aveia, o que lhes confere “um aspecto luzente, elegante, vigoroso e inexcedível”. Na Alemanha, “povoações inteiras” o consomem com “prazer excessivo”.

A mulher de Esquina, Teresa, uma matrona gorda e rubicunda, entra na história e provoca o marido várias vezes: “toma arsênico, menino, toma”. Amare iuveni fructus est, crimen seni.

Jornal de Brasília - 9/3/2022

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