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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Em um filme, o casal se muda para uma mansão erma e meio abandonada (eis uma metáfora do casamento: a construção é grande demais, já foi mais vistosa e a solidez não é estreme de dúvidas).

O casal começa a arrumar, jogar tralha fora etc., uma tarefa que dura mais do que um dia e não está imune às rachaduras que aparecem no processo de deslumbramento do novo e de conquista do espaço (das somas da ilusão também: tente colocar um pingo de tinta, de brincadeira, no nariz da sua mulher). Às vezes o que se precisa trocar no cômodo não é a cor da parede e sim o encanamento ou a fiação.

Eis que o marido descobre um quarto escondido. Um quarto com poderes mágicos, que fornecia o que ele quisesse; bastava expressá-lo verbalmente. Fazia-se então um breve bruxulear de luzes e shazam, o objeto do desejo surgia “ex nihilo” no chão.

O homem conta para a mulher, que fica apreensiva de início mas acaba se entregando. E os dois brincam de “eritis sicut dii” no seu éden particular, ou seja, passam a se divertir avidamente com delícias capazes de se concretizar em festinhas, champanhes magníficos, caviar beluga e dinheiro em espécie, aos montes, para jogar para o alto, para rasgar às gargalhadas.

De um modo geral, homens são mais primários e se contentam com o básico: comida, bebida, tabaco, motos, sinuca, futebol e o desfrute de mulheres descartáveis. Por sua vez, elas preferem roupas, sapatos, joias, maquilagem, amor verdadeiro e outros bens imateriais tão complexos que nem elas mesmas conseguem compreender e muito menos expressar. O quarto não lia pensamento.

Um dia o marido sai e abastece o carro. Na hora de pagar, percebe que a grana tinha virado poeira. Ele não sabia que os itens encantados se desintegravam quando levados para fora da casa. Ele não sabia que não dá para mandar o mundo se lascar com punhados de ouro do tolo no bolso.

Jornal de Brasília - 20/4/2022

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