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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Este artigo tem, para mim, um sabor comemorativo. É o quinquagésimo que publico aqui neste espaço, o Jornal de Brasília, a quem agradeço a oportunidade e a paciência por me ter – digamos assim -- homiziado por vários meses desde o primeiro escrito (na edição de 17.7.2007) até o dia de hoje.

Nas outras 49 ocasiões, desfilei um pouco sobre assuntos variados e tenho a sensação de que não fui demasiadamente repetitivo, ou seja, que não falei sempre das mesmas coisas. Mas todos os artigos giravam em torno (ou ao menos tinha um gancho) do direito, porque a coluna é, afinal, reservada ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, de modo tal que é esperado que se traga para os leitores algo de interesse jurídico. Sim, cheguei a ser rejeitado: uma vez mandei uma crônica que, confesso, não tinha nada a ver com direito. Daí surgiu a demanda pessoal de falar em “natureza jurídica”, mas de coisas não tão previsíveis, como o ciúmes, a solidão, o bolo de fubá e a infecção urinária. Até mesmo apareceu a natureza jurídica da natureza jurídica, sob a forma pseudo-metafísica “O que é natureza jurídica?”. Não fosse assim, eu temia que o Jornal de Brasília voltasse a me recusar.

Alguns artigos escrevi em vários dias; outros, só nos minutos suficientes para o trabalho de digitação. Eles não tinham nem dia nem hora para sair de mim, mas quase sempre eu fazia algo no sábado, o dia da semana que mais detesto. Escrevi na segunda às 6 da manhã e escrevi em altas horas de sextas para sábados sob efeito do torpor etílico. Escrevi com barulho e a cabeça cheia de preocupações, e escrevi na tranquilidade das madrugadas silenciosas e solitárias. Escrevi, simplesmente.

Deixei que alguns de meus autores preferidos – não necessariamente nesta ordem: Miguel Reale, Norbert Elias, Ernst Cassirer, Ortega y Gasset, Julián Marías, Pierre Clastres, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Frans De Waal, Olavo de Carvalho, dentre outros, em um leque de interesse bastante amplo – falassem por mim, ou melhor, através de mim. Mantive vivos seus gênios (os únicos que podem fazê-lo por conta própria são os dois últimos). Não gosto necessariamente de tudo o que esses pensadores produziram e muito menos concordo com tudo o que eles colocaram no papel, mas citá-los expressamente é uma forma de manter acesa a chama da minha gratidão por eles, e de me expor a mim mesmo. Eu preciso disso. Não quero levar uma vida segura e sem riscos, fingindo-me de morto atrás das coisas que já conquistei. Sou daqueles que acham que, com o tempo, a vida vai ficando mais difícil, porque as pessoas passam a exigir mais de você. Sou adepto incondicional do lema noblesse oblige, e gosto de encarar um bom desafio, de combater o bom combate.

A propósito, não gosto necessariamente de tudo o que eu mesmo produzi (eu apontaria meu melhor texto o “Crime de homofobia: o Estado sou eu”), mas penso que consegui criar um estilo que granjeou uns poucos admiradores, e se digo isso é porque eles é que mo disseram e mo dizem. Não falo de amigos, cujos elogios valem pouco, mas de gente que mal conheço ou que não conheço de jeito nenhum. Esses não têm nada a ganhar se dirigindo a mim e revelando que apreciam o que eu escrevo, o que muito me encabula se o contato for pessoal:

- Ivaldo, gostei muito desse seu último artigo.
- Ah, obrigado.

Ou então:

- Dr. Ivaldo, não perco nenhum artigo seu, e fico ansioso pelo próximo.
- Ah, obrigado.

Não desprezo encômios, é claro: ainda não cheguei a esse nível de insanidade. Mas não é isso o que busco. Como não faço a mínima ideia de quem vai me ler, e menos ainda o que vai achar, é pura perda de tempo ter um leitor ideal na cabeça. Tampouco vale a pena imaginar a reação que um artigo pode provocar, seja em quem for.

Passados mais de 200.000 caracteres, acho que tenho fôlego para outros tantos. Não tenho nada a perder.

Jornal de Brasília

 

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