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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Por que o ladrão se veste de entregador de flores? A resposta é simples: para enganar a vítima, fazê-la acreditar que está acolhendo uma visita inofensiva e até agradável (Gente, adoro flores! De quem será?), enquanto a história é bem diferente. A vítima pode cair na cilada com mais ou menos facilidade, ou não cair, se for desconfiada, se morar em uma cidade grande.

O mesmo artifício se aplica a criminosos fantasiados de eletricistas, funcionários do censo, policiais. Os policiais eles próprios se disfarçam de varredores de rua, usuários de droga (esse é um capítulo à parte) e também entregadores de flores. Aqui, o objetivo é obter informações relacionadas a investigações.

Tudo isso pode ser resumido em uma única palavra: preconceito. De uma vez por todas: preconceito não é um fato, não é uma opinião, não é uma convicção. Preconceito é um juízo de probabilidade. É uma hipótese previsível mas provisória, precária, a ser confirmada com conhecimento mais aprofundado da realidade. Como esse conhecimento nem sempre é viável, o recurso é confiar nos dados acumulados em situações prévias idênticas ou parecidas para que se possa enfrentar a situação experimentada naquele momento.

O entregador de flores pode ser um ladrão. Mas pode ser mesmo um entregador de flores – e esta última chance se multiplica se ele bater na sua campainha no dia do seu aniversário ou se você tiver saído na noite anterior com um homem de temperamento romântico. Ao visualizá-lo, você precisa tomar uma decisão rápida e intuitiva, e chegar à conclusão – acertada ou infeliz – de que o entregador é, no duro, empregado de uma floricultura e o que tem nas mãos são rosas para te dar.

Em incontáveis contextos, as pessoas são o que parecem ser e com base nessa coincidência vamos nos situando no mundo e nos organizando. Preconceito é uma coisa mais boa do que ruim.

Jornal de Brasília - 21/9/2022

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