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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de Justiça do MPDFT

Quando você pensa em nazismo, a imagem mais imediata que surge são os campos de concentração. Nada simboliza melhor uma época. Campos significavam pilhas e pilhas de corpos esqueléticos, uns mortos e outros mais mortos do que vivos. Mas o problema principal do nazismo não foi isso. No curso da história, houve outras experiências de prisões de escravos e as usinas de extermínio do III Reich não foram uma cartada original, apenas uma “evolução” em termos logísticos na epígrafe da matança em série.

A questão mais funda é que o governo quis comandar uma sociedade que não existia. Quando é assim, o exercício do poder coercitivo é capaz de causar danos terríveis, mas não por tanto tempo: o Pesadelo dos 1000 Anos ele próprio durou 988 menos do que isso. Ou você acha que Hitler não apertaria o botão vermelho se tivesse um para apertar e arrasar o que havia para arrasar?

Os valores do nazismo não coincidiam com os da população alemã, e muito menos os dos territórios ocupados, senão no antídoto do veneno que gotejava de Versalhes. Ideais mais nobres, potencial ou efetivamente cultivados, eram incompatíveis com a política de ódio e destruição. Na luta pela depuração de raça humana não havia espaço para caridade, tolerância, perdão, essas mesquinharias burguesas e gráceis; ao contrário, demonstrar compaixão para com os inimigos era considerado crime de traição contra o “espírito” do povo. Carl Schmitt chegava a defender a abolição de todo direito penal.

A reinvenção da sociedade pelo Estado passa pelos mecanismos da propaganda, ou seja, da mentira, e, quando necessário - e é sempre um pouco necessário -, da violência mais estúpida, do rapto na calada da noite, da caçada em plena luz do dia. Pensando bem campos não foram a “solução final” do fascismo e sim o seu raio X. E pior: aqueles esqueletos todos eram o seu espelho de prata.

Jornal de Brasília - 14/12/2022

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