Ivaldo Lemos Junior
Procurador de Justiça do MPDFT
1 - O episódio do tapa do ator Will Smith poderia ter provocado, mas não provocou, uma reflexão importante: qual o papel do macho moderno? O que a mulher espera dele? Que escute calado gozação barata sobre ela, na frente de um monte de gente? Smith deveria ter balançado a cabeça em sinal de reprovação ou rido “par délicatesse”? Ou deveria ter achado graça para valer (em um primeiro momento, foi o que pareceu) ou só rir se ela levasse na esportiva (o que não aconteceu)? Ou ele deveria ter agido com firmeza e rapidez, protestando, esbravejando, xingando? Ou só cara feia não bastava e ele precisava ter ido além, levantar-se, xingar com dedo em riste, partir para as vias de fato? Se ele tivesse se retirado do salão, isso seria um gesto de protesto educado ou de covardia e emasculação? E se o agressor fosse outra mulher? Você, mulher, gostaria que seu marido agisse como Will Smith e até cometesse um crime para te defender?
2 - Mudando completamente de assunto. Tanto o candidato a presidente da República quanto a ministro do STF devem ter ao menos 35 anos de idade para assumir tais cargos (art. 14 p. 3o, VI, a, e art. 101 da Constituição, respectivamente). Mas o segundo deve ter menos de 70 (era 65 antes da Emenda 122) e se aposentar compulsoriamente aos 75 (com a emenda 88 e a Lei Complementar 152). Já o presidente não tem limitação etária máxima. Veja que esse cipoal jurídico – emendas, leis, artigos, incisos, alíneas, parágrafos – oblitera uma incongruência tremenda. O sistema considera que uma pessoa de 75 não tem mais condições (físicas? Mentais?) de ser ministro do STF mas tem para ser presidente, um cargo bem mais desgastante; todos eles parecem ter envelhecido muito mais tempo do que o período de mandato.
3 - Mudando de assunto de novo, este é o artigo número 650 da minha carreira. Estou começando a pegar o jeito.
Jornal de Brasília - 28/12/2022
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