Ivaldo Lemos Junior
Procurador de Justiça do MPDFT

O filme “O Poderoso Chefão 2” mostra algo verdadeiro no mundo criminoso: as organizações ilegais se dividem em territórios, mais do que propriamente em atividades. Se os espaços de maltas rivais estiverem delimitados com nitidez, elas podem ser concorrentes sem maiores problemas, pelo menos em linha de princípio.

Por exemplo: no filme, Frank Petangeli pede autorização a Michael Corleone para eliminar os irmãos Rosato, em Nova Iorque. Petangeli herdou o acervo de Peter Clemenza, que lhe prometera uma faixa regional maior mas morreu antes disso. Corleone, que havia deixado NYC e se mudara para o estado de Nevada, nega o pedido de Petangeli, alegando que tinha negócios com Roth, um velho doente que aparentava levar uma vida normal e pacata, mas era um delinquente associado aos Rosato. Michael sofre um atentado, decide que a culpa é de Roth e determina que seu capanga, um tal de Bussetta (sic), mate-o, quando todos estavam em Cuba.

Roth se safa (quem não se safa é o Bussetta) e tenta se mudar para Israel usando a Lei do Retorno (era judeu), mas não consegue. Com problemas de passaporte, volta aos EUA e é vítima de um tiro em um aeroporto, no estilo suicida Jack Ruby.

Na vida real, o agente do FBI Joe Pistone foi pioneiro na infiltração no crime organizado, chamado popularmente de “máfia”. Ele escreveu um livro, “Donnie Brasco”, e outros mais, contando coisas que aprendeu. Uma delas é que “mafiosos” não são assassinos. Eles matam sim, quando necessário. Mas não são uma súcia de homicidas e sim de ladrões. A essência de suas atividades é o roubo – de absolutamente qualquer coisa que puder ser roubada. O assassínio é apenas um meio para que os roubos possam existir. Portanto, mafiosos são ladrões e, secundariamente, latrocidas ou homicidas.

P.S. Pistone diz que bandidos de verdade acham “O poderoso chefão” uma ótima comédia.

Jornal de Brasília - 8/2/2023

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