Ivaldo Lemos Júnior
Procurador de Justiça do MPDFT
Morreu Pelé, o brasileiro mais ilustre de todos os tempos -- mas não o maior orgulho nacional, salvo quando oponível ao público estrangeiro. Afinal, quem é Messi perto dele? Maradona era lá um canhotinho habilidoso, porém rechonchudo, drogado, fez gol de mão e tinha amigos bem duvidosos. Mesmo quem não testemunhou Pelé nos gramados fica civicamente obrigado a sustentar que nunca houve quem o superasse, nunca haverá. Completo! Fabuloso! Um colosso! Pelé é a medida de todos os atletas do ludopédio, de todos os jogadores de qualquer coisa, antes e depois do infinito.
Uns anos atrás, o chef Jamie Oliver visitou a terrinha e apresentaram a ele iguarias como brigadeiro e, pelo que conheço de meus compatriotas, pamonha, açaí, pão de queijo, pastel de palmito. Talvez empadão goiano, tapioca, cupuaçu desidratado, bolo de rolo, doce de buriti, olho de sogra, picanha invertida e farofa. Brigadeiro é certeza porque Oliver provou e deu seu parecer: porcaria. E destarte sangrou os brios pátrios, houve movimentos em prol do boicote a seus restaurantes e, se não se retratasse cabalmente, era o caso de deportação deste solo soberano e hospitaleiro, até extradição foi cogitada.
Fato é que o brasileiro mal disfarçava desprezo pelo que Pelé dizia, mesmo quando o assunto era futebol; como comentarista, era um pereba de marca. Riam quando falava dele mesmo em terceira pessoa. Debocharam quando avisou que o brasileiro não sabia votar e dedicou o milésimo gol às crianças pobres. Coçaram a cabeça quando cantava músicas de sua própria autoria, como aquela “A-B-C, toda criança tem que ler e escrever” ou mandou “um beijo” para a rainha da Inglaterra, entende? Fizeram cara de eu-sabia quando renegou uma filha biológica ou encarnou o Pai Tomás ao engatar namoro com uma starlet loira e linda, sem saber direito quem estava se aproveitando mais de quem.
Jornal de Brasília - 3/5/2023