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Ivaldo Lemos Júnior
Procurador de justiça do MPDFT

Quando se pensa em nazismo, a imagem mais automática que vêm à mente é a do campo de concentração, de modo especial com judeus esqueléticos, de olhar inexpressivo e que mal conseguiam ficar de pé. A associação está longe de ser indevida, mas os judeus foram o alvo preferencial do governo somente em um momento posterior. Os primeiros perseguidos o foram por razões políticas, comunistas em sua maioria, e também social-democratas, sindicalistas, jornalistas, professores, advogados. Se o sujeito fosse advogado judeu e comunista (ou judeu advogado e comunista, ou comunista judeu e advogado, conforme você achar o que é mais importante) na Alemanha pelos idos de 1933, podia esperar pelo pior.

Tudo começou em uma fábrica desativada de pólvora e munições em Prittlbach, perto de Dachau, a fim de abrigar presos em cadeias improvisadas na Baviera. O comandante inaugural foi Hilmar Wäckerle, que tinha o crachá esplêndido de ser nazi pioneiro (inclusive participou do Putsch de 23). Deve ter sido enriquecedora sua experiência de administração de fazenda e o manejo de gado em cercas de arame farpado. Wäckerle andava por Dachau com um cão e um chicote e adotou um protocolo de acolhimento dos recém-chegados: 25 chibatadas no capricho.

Assassinatos a sangue frio eram disfarçados como suicídios ou reações de guardas a fugas, e a expressão erschossen auf der Flucht (“baleado enquanto fugia”) se tornou uma desculpa corriqueira. Mas não enganou uma pessoa: o promotor Josef Hartinger. Inspirado por laudos médicos corajosos, que atestavam tiros à queima-roupa, ele passou a fazer investigações com óbvias dificuldades. O promotor deve ser aquele que levanta a mão quando os outros estão fingindo nada ver ou sendo coniventes, diz “espera aí”, e tenta fazer alguma coisa, mesmo diante das maiores resistências. Ministério Público é isso ou não é nada.

Jornal de Brasília - 7/6/2023

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