Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Tem pena d´eu

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Sir Arthur Smith Woodward foi um paleontólogo inglês nascido no século retrasado e falecido em meados do século passado. Era um tipo sério -- mas sério a ponto de não rir. Dizem que ele simplesmente não ria. Não era homem de piadas ou frivolidades. Sempre muito estudioso e concentrado, um dia, andando na rua de cabeça baixa, atravessou uma vidraça, o que o fez claudicar pelo resto da vida. Tempos depois, conseguiu repetir a proeza, atravessou outra vidraça e dessa vez fraturou um braço.

Casou-se com Maud, filha de um especialista em dinossauros. Há uma foto de ambos na internet e o semblante dele talvez fosse o máximo de relaxamento que se permitia. Talvez estivesse feliz na época. Talvez seu casamento com Maud foi feliz, sabe-se lá o que significa “casamento feliz”.

Sir Arthur teve uma carreira esplêndida, com vasta produção acadêmica e muitos prêmios. Assumiu a curadoria do setor geológico do Museu Britânico, aos 37 anos, posto que ocupou até os 60, e chegou a ser considerado a maior autoridade mundial em fósseis de peixes. Todavia, há um problema a manchar sua biografia: o Homem de Piltdown (HP).

HP foi um vestígio paleoantropológico localizado em 1912 pelo cientista amador Charles Dawson, que o batizou de “Eoanthropus dawsoni” (na ciência, o descobridor tem o privilégio de designar a criação, quase sempre na composição dupla e em latim; alguns colocam o próprio nome). HP apresentava a característica singular de capacidade craniana moderna em termos de formato e tamanho, mas com uma mandíbula ainda mais primitiva que a do Homo Erectus, com enormes caninos simiescos.

Woodward foi entusiasta do HP e passou seus últimos 30 anos dedicado a ele. Pior, morreu sem saber que não passava de uma farsa grotesca, que foi jogada no lixo da história para sempre. Morreu sem perceber que o HP foi a última vidraça que atravessou.

Jornal de Brasília - 2/8/2023

Os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição.

.: voltar :.