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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

José do Patrocínio faleceu em 1905 e deixou vaga a cadeira n21 da Academia Brasileira de Letras (a propósito, a “proclamação da República”, aconteceu literalmente: o novo regime foi anunciado verbalmente, às 18 horas do dia 15.11.1889, em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelo então vereador Patrocínio -- o mesmo que, meses antes, ajoelhou-se e beijou a mão da princesa Isabel na solenidade de assinatura da Lei Áurea).

Com essa vaga na ABL, seu presidente, Machado de Assis, fez campanha explícita pela escolha de Mario de Alencar. Este era jovem e tinha uma obra acanhada. Mas era filho de José de Alencar, que Machado admirava e escolhera como patrono da própria cadeira. Alencar deixara Mário órfão com cinco anos de idade e Machado desenvolveu uma relação paterna para com ele. Depois surgiu uma versão maldosa de que era pai biológico, o que faria de Dom Casmurro uma espécie de autobiografia velada.

A eleição era aberta. Havia outros dois candidatos, Domingos Olímpio, que obteve 12 votos, e padre Resende, um único (11 acadêmicos não votaram). Mario recebeu 17 votos, de tal modo que o lobby de Machado funcionou. A escolha foi contestada publicamente, o que em nada ajudou o fator político, ou seja, o fato de o novo imortal trabalhar no gabinete do polêmico ministro da Justiça J. J. Seabra.

Mario foi vítima de ataques e ficou abatido e até arrependido pela conquista de uma vitória menos por méritos literários do que por vantagens pessoais e governamentais, a ponto de Artur de Azevedo – que votara em Domingos Olímpio -- elogiar o novo membro, afirmando que não havia “homem de letras mais estudioso, nem de cultura mais variada e completa”. Ele disse que o poeta sabia “perfeitamente o grego” e não conhecia outro que lesse Homero no original. Nada de “lê bem, fala razoavelmente, compreende bem, escreve razoavelmente”.

Jornal de Brasília - 31/8/2023

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