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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Por que as pessoas gostam de ver erros de gravação de filmes? Divertem-se quando o ator explode numa risada contagiante no meio de uma tomada? Conferem finais alternativos, explicações sobre truques, detalhes sobre maquiagem? Há quem pague fortunas em leilões por pertences (roupas, óculos, chicletes, armas, exames médicos) de famosos. Há até quem queira tocar no “ídolo” ou sacar uma selfie; talvez se contente em matá-lo.

Se o filme for baseado em episódios verdadeiros, muitos pesquisam sobre o que de fato aconteceu e esperam que os atores imitem o mais fielmente possível seus personagens - ou melhor, que desapareçam neles -, no corte de cabelo, sotaque, tudo.

No reino da humanidade, existem pessoas, processos e produtos. Peter Sellers é a pessoa, Dr. Strangelove é o produto, e toda a fase de roteiro, produção, ensaios etc. é o processo. Acontece que o que se passa na telinha ou na telona é apenas o produto. Espiar o “making of” é mais ou menos como entrar dentro do ovo sem quebrar a casca. E esse “mais ou menos” se dá porque a suspensão da descrença aqui se aventura em potências mais altas e qualifica a tensão entre realidade e fantasia.

Você pode ir além se tiver a chance de estar presente no set de gravação (durante a gravação, mas depois também, se passar bem no Jogo dos 7 erros) e, mais ainda, se for casada com um “astro” e assim medir em posição privilegiada a distância que aparta a imagem pública do cônjuge e o cônjuge em carne e osso. O caso Depp-Amber só não mostrou isso para os fãs mais fanáticos do casal.

Onde quero chegar: Shakespeare. Quem gosta de suas peças (produto) fica incomodado quando é posta em xeque sua autoria (pessoa), porque o processo é muito duvidoso. Para se ter uma ideia, só há o registro de 5 assinaturas dele, nenhuma relativa a peças, cartas ou poemas. Ou melhor, um poema: seu próprio epitáfio.

Jornal de Brasília - 13/9/2023

Os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição.

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