Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Vamos pegar uma fatia de um discurso que se repete “ad nauseam” e que soa convidativo e saboroso: o de que o lugar da mulher é onde ela quiser, ela pode fazer o que quiser e com quem quiser.

Começando pela última oração, eis que surge uma dificuldade formidanda. O “com quem” é ou já foi um problemão para todos ou quase todos os indivíduos. Isso porque há outra pessoa na jogada e que precisa, necessariamente, compartilhar o mesmo querer (a menos que se esteja a louvar o privilégio potestativo ao desfrute da carne e então estamos no patamar da apologia ao crime). Deve haver uma conjunção de vontades, nem que seja um tanto desigual e outro tanto banal.

Mas nem assim é. Até os bradpitts da vida já foram rejeitados ou traídos e sofreram por terem fracassado em suas conquistas e manutenções amorosas. Quanto menos atributos se ostentar, físicos, químicos, biológicos, geográficos, históricos, literários e matemáticos, galvanizam as chances de isso acontecer. O que estão na base da cadeia alimentar rapinarão o que sobrar, se sobrar.

No que respeita a ocupações laborais, a encrenca é idêntica. Repare que não existe “direito ao trabalho”. Quem duvidar que imagine o labor dos sonhos, se tal sonho houvera, e arrisque tomar providências judiciais. Processe a ilha paradisíaca ou a agência de modelos e verá que a ação mal passará da porta giratória.

O que se tem direito é ao salário e outras verbas (férias, 13^o, etc.) se se conseguir uma ocupação, mas o direito propriamente dito à ocupação, esse não há. Logo, não se trata de estar onde se “quer”, e sim onde se “conseguir”. Também aqui os atributos particulares entram em colisão com outros mais que pretendem as mesmas posições, e não há lugar para todos. Mais uma vez, quem está na base da cadeia alimentar ficará chupando o dedo.

Mas o pior não é o “onde” nem o “com quem” e sim o “o quê”.

Jornal de Brasília - 22/11/2023

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