Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Batata

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Quando o assunto é poder político, existem grosseiramente três correntes. A primeira é a que considera que está tudo bem, não se quer mudar nada ou quase nada, os padrões em vigor até poderiam ser intensificados. Quando muito necessário, anéis seriam sacrificados para estrategicamente se manter os dedos. Tem-se aqui o que o escritor Victor Hugo chamava de “burguesia”, que não é uma “classe”, mas “simplement la portion contentée du peuple” (simplesmente a porção contente do povo); “o burguês é o homem que agora tem tempo para se sentar”. Completava Ortega y Gasset: “mandar não é tanto questão de punhos como de nádegas. Mandar é sentar-se”.

A segunda escola é a que acha que muita coisa pode sim mudar, mas a partir dos andaimes erigidos pela cultura. Há pontos a serem aprimorados - o discurso não é da boca para fora -, desde que se mantenha o que funciona, pois há também conquistas a serem preservadas. Esses são reformadores, de modo cauteloso. É a grande maioria, porém esfacelada por divisões e subdivisões, com parcelas que desejam umas reformas, e outras, outras tantas, em especial as que lhes tocam diretamente. Muitos, no fundo, são burgueses desenxabidos.

E há os que querem jogar tudo fora e começar “ab ovo”, do zero. São os revolucionários, ainda que não sejam comumente denominados assim (e.g., os nazistas). Esses aceitam a realidade com uma crosta corroída de ferrugem, porém potencialmente útil, até porque é impossível se fazer uma “tabula rasa” da noite para o dia. Então se começa alterando o passado -- renomeando ruas e praças, incensando novos heróis, retocando retratos históricos, revendo versões de eventos passados, “ressignificando” o vocabulário --, e moldando o futuro, ou seja, prendendo e destruindo muita, muita gente. É batata: os revolucionários começam matando os inimigos e acabando se matando entre si.

Jornal de Brasília - 6/12/2023

Os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição.

.: voltar :.